quinta-feira, 30 de junho de 2011

A relação causal entre o uso da maconha e o desenvolvimento da esquizofrenia.

O uso da maconha é um tema recorrente em nossa sociedade, tendo como principal foco de discussão a legalização dessa droga. É sabido que os principais consumidores são jovens que são introduzidos a esse psicotrópico das mais variadas formas.

O artigo escrito pela enfermeira, concluinte do Curso de Especialização em Toxicologia Aplicada da UEL, Vanessa Kelly de Oliveira e pela Docente do Departamento de Ciências Fisiológicas, CCB, UEL, Estefânia Gastaldello Moreira traz novo combustível para tão polêmica discussão.

O que elas fizeram foi levantar a bibliografia dos trabalhos que estabelecem uma relação causal entre o uso abusivo de maconha e a manifestação da esquizofrenia. E os dados são alarmantes. De acordo com os estudos, a adolescência pode ser um período de vulnerabilidade do encéfalo para os efeitos adversos da maconha, o que aumentaria o risco de desenvolvimento do distúrbio psiquiátrico em até 3 vezes.

A esquizofrenia caracteriza-se por alterações do pensamento, da afetividade e do comportamento, tendo sintomas que são classificados em positivos (ilusões, alucinações, etc) e em negativos (alterações de afetividade que levam a perda de sentimentos e emoções). As conseqüências são desastrosas aos portadores, bem como para as pessoas que convivem com os mesmos.

Atualmente, as alterações no encéfalo são atribuídas a fatores genéticos e/ou ambientais. Estes últimos podendo ser intrauterinos (infecções, desnutrição materna, etc) ou extrauterinos (estresse emocional, uso de drogas psicotrópicas como cocaína, anfetamina e maconha, etc).

Estima-se que 9% dos adolescentes já usaram maconha pelo menos uma vez na vida (CARLINI ET AL.; 2002). A droga, classificada como um perturbador do Sistema Nervoso Central promove desorientação espacial e temporal e alterações do tato, visão e audição, além de causar dependência e tolerância. (SEIBEL; TOSCANO JUNIOR, 2004).

Estudos mostrando a relação de maconha como possível desencadeador de esquizofrenia aparecem desde 1962. Alguns defendem a casualidade (o abuso de substâncias desencadearia esquizofrenia, pelo menos em indivíduos com predisposição – MUESER et al., 1990) enquanto outros acreditam no modelo da auto-medicação, além dos que defendiam a idéia de que seria uma mera coincidência de duas desordens psiquiátricas (dependência e esquizofrenia).

O primeiro a investigar a hipótese causal foi um estudo epidemiológico sueco que acompanhou 50.000 jovens durante 15 anos (ANDREASSON et al., 1987). Eles descobriram que, para pessoas que haviam usado maconha mais de 50 vezes, a relação dose-resposta teve um risco aumentado de 3,1 vezes.

Vários outros estudos reforçaram a hipótese causal, mas há também evidências biológicas apontadas como determinantes para o desencadeamento da esquizofrenia.

O principal canabinóide responsável pelos efeitos psicoativos da maconha é o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) que atua como agonista de receptores canabinóides, que quando ativados, levam à inibição neuronal. O sistema canabinóide está implicado na patogenia da esquizofrenia e a ativação desse sistema pelo uso de maconha poderia ser a base neurobiológica que explicaria o desencadeamento de esquizofrenia pelo uso de maconha.

Outro possível mecanismo biológico é a sensibilização à dopamina. Indivíduos que usam regularmente maconha tornam-se progressivamente mais vulneráveis às aberrações cognitivas e sensoriais induzidas pela dopamina e passíveis de progredir para sintomas psicóticos (HOWES et al., 2004).

Alguns estudos mostraram que, quanto mais cedo se dá o início do uso de maconha, maior é o risco de desenvolvimento de psicose o que levaria ao questionamento já corriqueiro de quais as possíveis conseqüências de uma legalização do uso deste psicotrópico.

Embora não se tenha certeza se indivíduos sem predisposição a desenvolver esquizofrenia podem desencadeá-la através do uso da maconha, o simples fato de afetar indivíduos predispostos ao distúrbio já vem como forte contra-argumento aos usados pelos defensores da liberalização da droga.

Cabe também questionar por que, mesmo com a proibição da comercialização da maconha, o número de jovens que a consomem cresce cada vez mais e a idade em que se dá início ao consumo diminui cada vez mais.

Considerando que a esquizofrenia atinge, aproximadamente, 1,1% da população (REGIER et al., 1993), sendo que o início da doença para homens ocorre geralmente no final da adolescência ou por volta dos 20 anos, é necessário haver uma atenção especial para evitar que esse índice cresça cada vez mais simplesmente por descuido tanto por parte dos pais, amigos ou colegas como na fiscalização que deveria acontecer por parte das autoridades.

No que concerne o cuidado dos pais, o diálogo e até mesmo a fiscalização em caso de suspeita podem evitar uma grande dor de cabeça num futuro próximo. Quanto a ações das autoridades, cabe à população interessada exigir uma melhor fiscalização e denunciar possíveis pontos de venda em suas vizinhanças. Aos amigos e colegas cabe recriminar de maneira crítica e contundente a fim de zelar pela saúde dos que estejam consumindo esta droga.

Com dados tão alarmantes expostos no artigo de Vanessa Kelly e Estefânia Gastadello, fica bem claro a importância de cuidado e atenção especiais em relação ao principal público consumidor da maconha - os adolescentes - a fim de evitar, naqueles que tem uma predisposição a desenvolvê-la, o desencadeamento da esquizofrenia.

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