O
princípio do qual temos que partir para entender a ideia de identidade é o da
diferenciação, ou seja, nos questionarmos o que nos torna diferentes dos
outros. É importante realçar, no entanto, de que esta identidade não é inata;
ela se constrói socialmente, a partir de uma síntese pessoal que inclui
atributos e modelos recebidos dos outros. Está intimamente ligada com o modo
como afeto o outro e como sou afetado por ele.
Na
mesma mão da identidade, caminha a alteridade que pode ser resumida,
essencialmente, no respeito e reconhecimento da identidade do outro. O
que diferencia o outro de mim, de que maneira estas diferenças podem contribuir
para a minha identidade; para minha consciência; para minha subjetividade.Uma
sociedade que falha com a alteridade é uma sociedade doente, repleta de
hipocrisias e preconceitos, e altamente individualista.
O
som familiar dessa descrição não é mera coincidência. Vivemos em uma sociedade
em que só o que interessa é o indivíduo, que tem como ideia deste, nada menos
que a noção transmitida por dispositivos produtores de subjetividade
massificadores e alienadores, como a mídia, a religião, etc. Ou seja,
penso só em mim, mas acabo sendo um reflexo do que os outros querem que eu seja
e, exijo também que os outros sejam o que quero. Não há espaço algum para a
alteridade.
Tal
falta de respeito e reconhecimento fica evidente quando uma figura política
atual se pronuncia – com toda a arrogância que cabe a um típico estereótipo
desta sociedade individualista, esta que bebe de ideais coletivistas – a
respeito da “falta de educação” que é “pré-requisito” para se namorar uma
negra, a respeito da necessidade de se bater em um filho com tendências
homossexuais a fim de “educá-lo” entre tantas outras declarações ridículas. E
pior, receber apoio de uma parcela influente e significativa da população
brasileira, que alega um retorno aos “bons costumes e boas morais”.
O
que deve ser resgatado, entretanto, não são costumes e morais e sim, a
alteridade. Uma busca por uma visão de mundo que tenha em sua concepção de ser
humano, pessoas, e não peças de máquina ou “clones”, além da importância das
relações entre essas pessoas. Uma sociedade em que se possa ter e assumir sua
identidade e abraçar a do outro como componente essencial de sua própria.
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