Talvez uma das características mais impressionantes do ser humano é a capacidade de questionar tudo a seu redor. É essa inquietação que nos leva a desenvolver pensamentos e tecnologias cada vez mais sofisticados e que, consequentemente, traz novas perguntas cada vez mais complexas.
No entanto, tão antiga quanto a busca por respostas é a enorme dificuldade em reconhecer ou, pelo menos, buscar entender, explicações mais concretas. O pavor de não sermos tão “especiais” como se insiste em acreditar que somos, frequentemente, causa a rejeição de explicações que não sejam fundamentadas em argumentos inexplicáveis, místicos ou sobrenaturais.
A velha máxima do “se não posso explicar, isso valida a existência de algo metafísico” está incrustada no pensamento humano como um parasita.
Um exemplo muito conhecido é o da discussão Monismo x Dualismo. Afinal, cérebro e mente são um só ou são entidades separadas? Até que ponto um influencia o outro?
De um lado, temos filósofos como René Descartes e John Locke que defendem o dualismo metafísico. Para eles, o espírito (mente) e o corpo (cérebro) são nitidamente distintos e habitam dois mundos irredutíveis, logo não podem ser uma única coisa. A própria Psicanálise, em sua separação da mente entre consciente e inconsciente é fruto dessa linha de pensamento.
Do outro lado, temos, em grande parte, psicólogos, cientistas cognitivos e neurocientistas. Dessa última profissão vale mencionar Antônio Damásio, neurocientista que estudou um paciente que teve seu cérebro lesionado e sua personalidade alterada.
Para Damásio e outros defensores do monismo, Descartes estava errado em afirmar que a razão é independente do corpo e das emoções. Os monistas acreditam que a mente comanda o corpo inteiro, mas as sensações que o corpo manda para mente são o que a induzem a funcionar de tal maneira.
É interessante observar nos argumentos dos dualistas a insistência de que a explicação não pode ser tão “simples” como cérebro e mente serem uma coisa só. É curiosa a ideia de que unicidade implica em simplicidade para esses pensadores.
O cérebro é altamente complexo por si só, o fato de a mente não estar em um mundo separado, não torna as coisas mais simples, muito menos mais fáceis de serem explicadas. Não é porque não podemos ver nossos pensamentos que eles têm que pertencer a um mundo metafísico.
Essa lógica exclusiva é altamente arrogante e, raramente, abre espaço para debates, questionamento e progresso intelectual, características muito comuns aos debates religiosos, outros grandes defensores do dualismo.
A raça humana só progride à medida que se questiona aquilo que é dado como certo, como fato irrefutável. A ausência de uma explicação clara para algo só prova que aquilo deve continuar a ser questionado para que se possa lapidar uma resposta cada vez mais elaborada e coerente.
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