Não é difícil de perceber a
fragilidade das relações em nossa sociedade em qualquer instituição. Seja
família, religião, justiça, amor – tudo que era sólido se desmanchou – como bem
previu Marx. Vivemos em uma “sociedade de indivíduos”, na era da modernidade
líquida apontada por Bauman.
Em uma sociedade como esta,
busca-se viver a “individualidade” de maneira intensa e constante. Valoriza-se
muito a minha opinião, o meu modo de agir, a maneira como eu
acho que outros devem agir ou pensar e, frequentemente, tal “individualidade”
é exposta de maneira vaidosa, repleta de orgulho e arrogância, marcarando
falsos moralismos e hipocrisias e glorificando o indivíduo em prol do coletivo.
Ora, para que esta ilusão
mantenha-se viva, abre-se mão da liberdade, como o capitalismo a vende, para
dar lugar a uma busca obssessiva por segurança, consequência de uma política do
medo que vende como nenhuma outra. Procura-se proteger aquilo que me “afirma”
enquanto indivíduo: minhas posses (sejam elas os relacionamentos que tão
comumente tomamos como tais ou as materiais propriamente ditas). Vivemos cada
vez mais enclausurados e cada vez com mais medo dos outros.
Qualquer que seja a sensação de
individualidade que se tenha em um cenário como este, prova-se extremamente
frágil e efêmera, frequentemente alienada em “valores” como o hedonismo, o
imediatismo e o consumismo exarcebado como consequência destes ditos valores,
que tornam-se os alicerces líquidos das relações na modernidade, seja com os
outros, seja consigo mesmo.
Cabe questionar que
individualidade é esta que depende do que tenho – e posso comparar e mostrar
para o outro –, com quem estou e o que estou fazendo para velar o medo
constante que sinto de ficar sozinho (solidão esta que decorre justamente desta
falsa individualidade) e como o que tenho define o que sou, ao invés de minhas
ações.
Uma sociedade como esta, na qual
o ter vale mais que o ser – consumo ergo
sum – é tal que os indivíduos prezam cada vez mais por falsos ideais de
liberdade e felicidade, ignorando aquilo que nos define como seres humanos: o
social, o qual, sem alteridade, tende cada vez mais à liquidez e à superficialidade.