sexta-feira, 12 de outubro de 2012

"Sociedade de indivíduos"


Não é difícil de perceber a fragilidade das relações em nossa sociedade em qualquer instituição. Seja família, religião, justiça, amor – tudo que era sólido se desmanchou – como bem previu Marx. Vivemos em uma “sociedade de indivíduos”, na era da modernidade líquida apontada por Bauman.
Em uma sociedade como esta, busca-se viver a “individualidade” de maneira intensa e constante. Valoriza-se muito a minha opinião, o meu modo de agir, a maneira como eu acho que outros devem agir ou pensar e, frequentemente, tal “individualidade” é exposta de maneira vaidosa, repleta de orgulho e arrogância, marcarando falsos moralismos e hipocrisias e glorificando o indivíduo em prol do coletivo.
Ora, para que esta ilusão mantenha-se viva, abre-se mão da liberdade, como o capitalismo a vende, para dar lugar a uma busca obssessiva por segurança, consequência de uma política do medo que vende como nenhuma outra. Procura-se proteger aquilo que me “afirma” enquanto indivíduo: minhas posses (sejam elas os relacionamentos que tão comumente tomamos como tais ou as materiais propriamente ditas). Vivemos cada vez mais enclausurados e cada vez com mais medo dos outros.
Qualquer que seja a sensação de individualidade que se tenha em um cenário como este, prova-se extremamente frágil e efêmera, frequentemente alienada em “valores” como o hedonismo, o imediatismo e o consumismo exarcebado como consequência destes ditos valores, que tornam-se os alicerces líquidos das relações na modernidade, seja com os outros, seja consigo mesmo.
Cabe questionar que individualidade é esta que depende do que tenho – e posso comparar e mostrar para o outro –, com quem estou e o que estou fazendo para velar o medo constante que sinto de ficar sozinho (solidão esta que decorre justamente desta falsa individualidade) e como o que tenho define o que sou, ao invés de minhas ações.
Uma sociedade como esta, na qual o ter vale mais que o ser – consumo ergo sum – é tal que os indivíduos prezam cada vez mais por falsos ideais de liberdade e felicidade, ignorando aquilo que nos define como seres humanos: o social, o qual, sem alteridade, tende cada vez mais à liquidez e à superficialidade. 

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