quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Revolução ou Coerção?

Diariamente somos expostos a diversos contextos em que a palavra revolução emerge. Na escola aprendemos sobre a revolução industrial, inglesa, francesa e diversas outras revoluções que marcaram importantes momentos históricos. No trabalho muitas vezes ouvimos que precisamos de algo revolucionário para resolver um problema. A internet revolucionou a maneira como nos comunicamos. A revolução científica nos permitiu termos a qualidade de vida que hoje temos. Enfim, exemplos do uso do termo e seus derivados não faltam.
Falar em revolução na política, no entanto, suscita todos os tipos de reações, desde defesas apaixonadas até repúdios hostis. Curiosamente a rejeição violenta a essa ideia costuma ocorrer por parte dos que acreditam que revolução é sinônimo de violência.
Contudo, entender revolução – no caso específico da derrubada do capitalismo – como sinônimo de violência parece ser um ponto recorrente tanto dos que defendem como dos que se opõem à mudança do sistema vigente. Nos próximos parágrafos irei me ater aos defensores, por estar, eu também, no meio deste grupo.
Obviamente, a discussão sobre o que é revolução de fato é muito mais extensa do que o que se pretende expor nesse texto. Para fins de contextualização, uma definição bastante simplificada poderia ser a de revolução como a sobreposição de um sistema considerado antiquado ou inadequado. As condições para essa sobreposição e como ela se daria, de fato, variam de grupo para grupo.
Há os que defendem uma revolução a partir de reformas estruturais que alterem a essência do sistema, mas sem derrubá-lo. Há, também, os que acreditam que o sistema atual deveria ser totalmente abolido, sem aproveitar nada e que se implantasse algo novo em seguida. Há os que acreditam que a única maneira de se superar o sistema atual é pegando em armas e confrontando os opressores. Há, por fim, o grupo no qual eu me encaixo, que acreditam que o que deve pautar a revolução jamais deve ser a coerção, uma vez que isso negaria a própria ideia de revolução.
Mas o que é coerção, afinal? Murray Sidman, em seu excelente livro “Coerção e suas Implicações”, coloca coerção como sendo o uso de punição ou ameaça de punição, bem como recompensar pessoas por evitarem nossas punições e ameaças. Os exemplos são incontáveis, uma vez que esta é a prática preferida para controle comportamental em qualquer esfera.
Os pais que ameaçam colocar (ou colocam) o filho de castigo caso não se comporte como deseja. Evitar multa por dirigir dentro da velocidade próximo a radares. O namorado ou namorada que afirma que o/a parceiro/a não gosta dele/a por não fazer algo. O professor que condiciona a atenção a dado conteúdo ao fato de que ele irá cair na prova. E a lista segue indefinidamente.
Mesmo quando recompensamos alguém por um dado comportamento não é raro que ele venha acompanhado de uma ameaça de punição. “Se você fizer algo recebe recompensa, caso contrário, será punido”. Se você estudar tira nota boa, caso contrário reprovará. Essas regras parecem tão óbvias e verdadeiras que não raramente acreditamos que as coisas têm que ser assim mesmo.
O exemplo mais evidente da lógica coercitiva encontra-se no sistema penal. Em um país com a terceira maior população carcerária do mundo é inquestionável que, no Brasil, punição é a solução para tudo. Por mais que se aplique com pesos e medidas diferentes para pobres e ricos, o que se clama sempre é a prisão.
E engana-se quem acha que isso é exclusivo de grupos conservadores. Nestes é comum que se peça a penalização para situações como as vistas na redução da maioridade penal, aborto, “cristofobia”, “heterofobia” e outras aberrações. Para mim, pessoalmente, tão absurdo quanto os pedidos feitos por essas pessoas é pedir a mesma prática para crimes que são inquestionáveis - e, sem dúvidas, necessários de sofrerem consequências que visem a impedir sua repetição e reparem o dano - como a violência contra a mulher, lgbtfobia, genocídio da juventude negra, dos povos indígenas e tantas outras barbáries que tomamos conhecimento diariamente.
Soa-me absurdo porque, ao mesmo tempo em que se defende que não faz sentido prender uma criança por um crime que tenha cometido, uma vez que o sistema penitenciário não corrige e é repleto de violações de direitos humanos, defende-se que os que cometem essas violências sejam presos. Entende-se, corretamente, que, ao mesmo tempo que prender o usuário de drogas ou a mulher que aborta não faz sentido (primeiramente por já ser incoerente considerar tais atos como sendo criminosos), pois isso comprovadamente não reduz nem o uso nem os abortos, defende-se a prisão para outros tantos, afim de reduzir crimes, como os de ódio, por exemplo.
Esta lógica, para mim, é emblemática, porque representa muito evidentemente o padrão relacional humano que se sustenta na coerção. Somos expostos o tempo todo a punições e a ameaças de punição. Quando não conseguimos escapar delas, com frequência o que fazemos é reproduzir o padrão. Como nem sempre a reação pode ocorrer com quem nos pune (e nem deveria, mas chegarei nesse ponto depois), punimos os outros.
Sem dúvidas, reagir à punição de maneira não exclusivamente punitiva é um desafio sem precedentes. A armadilha, no entanto, está em acreditar que isso é o melhor que dá pra fazer ou só o que dá pra fazer, no momento. Pedir a prisão de lgbtfóbicos ou agressores de mulheres e esperar redução nesse tipo de crimes é ingenuidade. Por mais que pareça inevitável a necessidade de afastamento de tais pessoas da sociedade está na hora de nos questionarmos se a solução é essa mesmo.
Retirar indivíduos que cometem crimes motivados pelo ódio da sociedade contribuirá para a redução desse ódio ou para que tais crimes continuem ocorrendo? A resposta a essa pergunta não é uma questão de acreditar que sim ou não. As evidências em diversas sociedades e no laboratório mostram claramente que essa estratégia é totalmente ineficaz.
O que, sabidamente, reduz o ódio e crimes hediondos é o planejamento de culturas mais igualitárias e a promoção de condições ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento de valores morais justos e pró-direitos humanos. No caso de aplicação de pena por um crime, esta não deveria se dar pela exclusão social, pauta que combatemos tão insistentemente.
A consequência a esses crimes deveria se dar propiciando ao indivíduo, assistido durante o processo, a possibilidade de construção de novos repertórios. Sem deixar de lado a escuta e o acolhimento. O que fazemos ao prender e jogar a chave fora é enrijecer as regras que o indivíduo já possui – tornando ainda mais difícil qualquer chance de mudança.
O mesmo enrijecimento acontece quando optamos por constranger alguém por dizer algo ofensivo, ao invés de desconstruir assertivamente o preconceito ou a ofensa. Ou quando acreditamos que uma revolução pautada pela destruição do sistema atual ou pelo embate armado possa, de fato, ser uma revolução. Nada disso é revolução – é perpetuação da coerção.
De nada adianta mudar o sistema, se a lógica que embasou a substituição é a mesma: o controle aversivo. Só há uma revolução possível, uma que quebre o ciclo da coerção em nossas relações, e ela tem que ser pautada no amor. Quando falo em amor não me refiro àquela noção romantizada ou reducionista de amor. Numa perspectiva behaviorista, como bem colocou Skinner “o que é o amor senão outro nome para o uso do reforçamento positivo?” (reforçamento positivo pode ser entendido como consequências de nossos comportamentos que aumentam a probabilidade dele voltar a ocorrer, porque a consequência é agradável para o indivíduo).
A colocação parece simplista em um primeiro momento, mas carrega em si o que eu acredito ser a verdadeira base para uma revolução de fato. Reforçar positivamente um dado comportamento é apresentar consequências que não evoquem reações aversivas (desagradáveis) e que afetarão o comportamento fazendo com que ele se torne mais provável de acontecer.
A intenção em afirmar que o amor é outro nome para o reforçamento positivo é nos fazer questionar em que situação falamos que sentimos amor ou que amamos alguém? A resposta, sem exceção, será quando aquele indivíduo se sentir positivamente reforçado pela sua relação com o outro ou com o meio.
Estar sob controle de contingências positivamente reforçadoras propicia ao próprio organismo a produção e liberação de substâncias que favorecem a qualidade de vida, bem como favorece, indiscutivelmente, a consolidação de respostas pró-sociais e permite maior variabilidade comportamental.
Uma revolução real, portanto, será aquela que se propuser a planejar contextos e a produzir consequências que sejam positivamente reforçadoras - visando a aumentar a frequência de comportamentos benéficos para a sociedade, ao invés de focar na punição dos indesejados - promovendo, nada mais, nada menos, que uma sociedade pautada pelo amor.

domingo, 17 de janeiro de 2016

A competição pelo sofrimento no capitalismo


    Em meados do segundo semestre de 2015 escrevi um texto que abordava alguns dos motivos pelos quais eu considero o capitalismo um sistema indefensável e porque acredito que devemos lutar contra ele (http://migre.me/sIqRp). Dentre os principais pontos estavam a exploração pela mais-valia e pelo trabalho escravo, alguns fetiches capitalistas como a meritocracia, a "lei" da oferta e demanda, o livre mercado e alguns mecanismos de geração de lucro em cima da opressão como o crédito e endividamento, além da lógica de exclusão pelo consumo.
    Um ponto deixado de lado naquela ocasião e que acredito ser pertinente explorar neste momento é a construção, reprodução e frequente busca pela legitimação de regras sobre o que seria uma suposta "natureza humana" (o capital adora um discurso mentalista/internalista). Sobre esta "tara" por explicações mentalistas e/ou internalistas dos comportamentos, Holland, um behaviorista brilhante, é muito feliz ao afirmar que:
“O mito das causas internas é alimentado devido ao reforçamento fornecido à elite e também devido ao papel que ele desempenha na manutenção do presente sistema. As pessoas que ocupam alta hierarquia no poder afirmam que atingiram essa posição elevada devido a um grande mérito pessoal. Os ricos têm liberdade de usar seus recursos internos, sua vontade, determinação, motivação e inteligência de forma a alcançarem seu alto nível. As causas internas servem como justificativa para aqueles que tiram proveito da desigualdade (...). Aos pobres é reservado um conjunto especial de causas internas. Diz-se que eles são preguiçosos, sem ambição, sem talento. Aqueles que extraem o máximo de nosso sistema social podem considerar punitivo encarar sua boa sorte como o resultado de um sistema que explora as pessoas menos privilegiadas e que cria a pobreza e a infelicidade. Se isso é verdade, as afirmações verbais que atribuem a posição de cada indivíduo na sociedade a traços pessoais, tanto inatos como resultantes de uma cultura menos desenvolvidas, seriam reforçadoras” (p.61).
    A grande maioria dessas regras, senão todas elas, são falaciosas. Pessoalmente, acredito que a mais perversa seja a de que o ser humano é competitivo por natureza e que isso é necessário para sobrevivermos. É perversa, pois é em cima desta lógica que irão se fundamentar o individualismo, a alienação à "liberdade" e a cultura do "no pain no gain" (sem dor, sem ganho).
    Se devo competir com meu par para sobreviver ou para garantir a sobrevivência de meu seio familiar (reduzido progressivamente ao longo da história, iniciando na Idade Média e se acentuando no capitalismo) não me interessa garantir a sobrevivência da comunidade ou da espécie. Basta, portanto, que eu garanta os recursos e condições para que eu e meus próximos sobrevivam, uma vez que, apenas assim, posso garantir que serei livre para fazer o que eu quiser - sem ninguém interferindo em minha vida. Além do mais, se conquisto a minha suposta liberdade é pelo meu próprio esforço e suor.
    Esta falsa regra ignora o fato de que o ser humano só sobreviveu às condições extremamente aversivas de Eras anteriores devido a sua capacidade de se mobilizar em grupo (potencializada pelo advento da fala) e de viver em comunidade de maneira solidária e coletiva, visando o bem comum. Ao se privatizar as posses (a propriedade privada), os meios de produção e as relações criaram-se as condições necessárias para que o capitalismo se estabelecesse como única alternativa (não por acaso uma das máximas deste modelo é a "There is no alternative" - Não há alternativa) e não é mera coincidência que estamos caminhando a largos passos para a extinção da raça humana.
 Nos venderam competitividade, individualismo, liberdade e uma vida melhor e não só compramos a ideia, como passamos a acreditar que esta era a única solução viável e que as coisas sempre foram assim.
    Em outro post discorri sobre a importância da ciência baseada em evidências para a revolução (http://migre.me/sIrjx). Um dos argumentos que defendi é de que não se pode chamar de opinião algo que contradiz um dado concreto sobre o mundo em que vivemos. Tais opiniões apenas expõem o grau de desconexão com a realidade do indivíduo e a resistência a mudanças de pontos de vista mesmo quando estes são exaustivamente provados equivocados.
    Afirmar que o feminismo é coisa de "mulheres querendo se fazer de vítima e conseguir atenção e privilégios", por exemplo, é um desses casos, mesmo quando se sabe que entre 2001 e 2011 uma mulher morria a cada uma hora e meia (http://migre.me/sIrPM), que, em 2013, uma mulher brasileira era estuprada a cada dez minutos (http://migre.me/sIrTE), que cinco mulheres são vítimas de violência doméstica a cada dois minutos (http://migre.me/sIrSh), que as mulheres no Brasil recebam, em média, 30% menos que os homens trabalhando em mesmo cargo e com as mesmas qualificações (ou até mais - http://migre.me/sIs0H).
    Outra situação comum é a defesa de que racismo não existe ou que é coisa de negros em relação a negros ignorando evidências como a de que entre 2003 e 2013 o número de homicídios contra jovens aumentou 32.7% (enquanto o de jovens brancos caiu 16.7%. Ou seja, proporcionalmente morrem 173.6% mais negros do que brancos no Brasil (http://migre.me/sIsgW). Ignorando também que 73% dos cadastrados no Bolsa Família em 2013 eram pretos e pardos - em outras palavras, estão em situação de extrema pobreza (R$77 per capita mensal) ou pobreza (R$77,01 a R$154,00 per capita mensais) - http://migre.me/sIsGc. Fazem de conta que não são 60% da população carcerária brasileira os negros e pardos (http://migre.me/sIsJ3) ou que negros recebem, em média, 28% menos que brancos em seus trabalhos mesmo tendo o mesmo nível de instrução e demais qualificações (http://migre.me/sIs0H).
    Um último absurdo para ilustrar a interminável lista de "opiniões" diz respeito à população LGBT. Não raramente se escuta dos mais reacionários que gays, lésbicas, bis e pessoas trans morrem como quaisquer outras e que homofobia não existe. Acrescentam que não se deve dar mais "direitos" a essa população (como criminalizar a homofobia ou transfobia, por exemplo, ou criar programas que reduzam a vulnerabilidade - embebidos da falácia de "direitos iguais" defendida pelos neoliberais).
      Desconhecem (intencionalmente, ou não) o fato de que, em 2014, somente entre Janeiro e Abril foram registradas 337 denúncias de homofobia na Secretaria Nacional de Direitos Humanos (1013 no ano inteiro - http://migre.me/sIsXq) e no mesmo ano, até Setembro, 216 pessoas LGBTs tinham sido assassinadas no país (http://migre.me/sIsTM). Passa batido para essas pessoas também, um estudo realizado em 2009 com 18.599 estudantes de 501 escolas da rede pública de todo o país em que 80 % declararam que gostariam de manter algum nível de distanciamento social de pessoas com deficiência, homossexuais, negros e pobres e 18,2% das vítimas de bullying nessas instituições o são por serem homossexuais (http://migre.me/sIt4O). Assim como não parece ser digno de atenção o fato de que, em 2012, 13.29 pessoas por dia foram vítimas de violência homofóbica no País (http://migre.me/sItcM).
    Onde pretendo chegar apresentando estes dados? Uma vez exposta a inquestionável crueldade da realidade e das opressões sofridas por estes grupos e uma vez constatada a negação, por parte de muitos, destes dados, assim como a invalidação da opressão e perpetuação de toda sorte de violência contra mulheres, população negra, lgbt, indígena, pobres, etc. é impossível não se questionar acerca do que mantém este tipo de comportamento.
    Obviamente, seria impossível esgotar a análise de elementos que podem manter tais comportamentos, mesmo porque existirão condições bastantes particulares à história de aprendizagem de cada indivíduo que caminharão lado a lado com variáveis culturais e filogenéticas (características adaptativas selecionadas pela evolução das espécies).
     No caso do preconceito, uma possível origem filogenética estaria na necessidade de distinguir companheiros de tribo e membros de tribos rivais a partir de generalizações de características físicas ou visíveis dessas tribos; a falha em fazer esta distinção poderia resultar na morte do indivíduo ou da tribo inteira. Esta capacidade teria sido selecionada pelo seu valor de sobrevivência até que, em determinado momento, como foi a partir do momento que a humanidade se constituiu como civilização, que o valor de sobrevivência específico de tal variável perde sua função e ela naturalmente seria transmitida menos frequentemente para os descendentes.
    Há, entretanto, uma condição peculiar ao ser humano que afeta diretamente este cenário: a comunicação por meio da fala e da escrita e a transmissão de regras de uma geração para outra. Ora, sem o conhecimento dos motivos pelos quais determinadas figuras poderiam parecer mais ameaçadoras, ou mais frágeis, ou "inferiores" e sem repertório para questionar tais convicções o terreno fica extremamente fértil para a criação de regras em que a consequência descrita de um comportamento não tem relação direta com os antecedentes ou com o comportamento em si.
    Trocando em miúdos, antes de regras preconceituosas serem transmitidas, poderíamos levantar a hipótese de que há atualmente, por exemplo, um componente filogenético no sentimento de desconforto ou até mesmo de ameaça na presença de um indivíduo de "outra tribo". Uma vez que, em uma sociedade civilizada, não necessariamente este outro represente uma ameaça de uma tribo rival, um conflito emerge. Ou o sentimento de ameaça é questionado (considerando que a pessoa tenha aprendido a fazer este tipo de questionamento) ou cria-se um desconforto maior ainda: o de encontrar alguma explicação para este desconforto.
    Desta forma, uma variável não mais relevante para a sobrevivência da espécie continua a sobreviver pois é mantida por outro componente - a variável cultural. Dependendo da capacidade de raciocínio do indivíduo ele mesmo criará uma explicação (quase, senão sempre falaciosa) e de acordo com seu grau de influência no grupo em que está inserido esta explicação tende a se disseminar e a ser passada de geração para geração (outra possibilidade é o indivíduo ir buscar a explicação de um líder na comunidade e passar a retransmiti-la), estabelecendo-se como prática cultural.
    Como a regra descrita não encontra sustentação em evidências e sim, com frequência, no compartilhamento de um desconforto por um grupo, a probabilidade de que ela seja mantida por afastar o desconforto é bastante elevada. A força que esta regra terá na vida deste grupo depende também da história individual de aprendizagem de cada um destes elementos. Como já dito, se os membros de um grupo foram ensinados a questionar determinados tipos regras, estas práticas culturais terão mais dificuldades em se manter naquele grupo.
    Ao longo do tempo, tais práticas podem ser desacreditadas e cair em esquecimento ou podem ser reatualizadas, ganhando novas máscaras e sendo inclusive legitimadas por agências de controle (governo, igrejas, escolas, comunidade científica, etc.). Para que tais regras se mantenham, contudo, é necessário que o elemento mais nuclear da contingência seja alimentado (ou reforçado). Em nosso exemplo, seria o desconforto sentido na presença de algo considerado ameaçador, dando a este desconforto, credibilidade e ao que é considerado ameaçador, o status de ameaça.
    Uma das maneiras mais corriqueiras de se estabelecer algo como ameaça, além do reforçamento do sentimento de desconforto, é – após a consolidação da propriedade privada e da privatização dos meios de produção e das relações humanas – apontar determinados grupos como potenciais ladrões dessa liberdade individualista. Aqui já há um salto das regras mais elementares criadas e compartilhadas por um grupo, para a apropriação dessas regras por agências de controle para embasar ideologias dominadoras.
    Este passo é fundamental para que a ameaça – que poderia perder o status de ameaça uma vez que as condições na qual aquela condição evolutiva se estabeleceu não mais existem – se firme novamente como ameaça, agora em concordância com regras produzidas por agências de controle que serão transmitidas de maneira persuasiva (ou seja, de modo que o indivíduo acredite que é realmente aquilo que ele quer, inclusive por não haver outra alternativa).
    Estas condições para manter a ameaça enquanto ameaça vão sofrendo modificações ao longo do tempo, mas mantêm um cerne comum: a aposta na aversividade. Comportamentos mantidos por controle aversivo tem muito mais chances de serem estereotipados (apresentam baixa variabilidade) e de serem de difícil extinção (resistem a mudanças no ambiente como a retirada de consequências que mantinham o comportamento).
    Não é difícil encontrar estes elementos nos discursos contra os grupos mais vulneráveis aqui citados. Esta estratégia persuasiva de colocar algo como ameaça porque poria em risco valores fundamentais (quem os definiu como fundamentais?) é o pilar de boa parte do, senão todo o, controle exercido pela ideologia neoliberal. Suas propriedades, seus direitos individuais, sua liberdade, todo o sofrimento que você teve para conquistar o que tem – tudo isso colocado em risco por pessoas que querem ter mais privilégios, mais direitos, mais liberdade que você – sem ter que ter sofrido tanto quanto você (é, eu sei o quanto isto soa absurdo).
    Isto é ainda mais alimentado quando se potencializa o sentimento de ameaça pela lógica da competitividade. A ameaça não quer apenas tirar algo que é seu, eles querem ser melhores que você. Querem se dar melhor com menos esforço. A competição se exacerba de tal forma que, mesmo confrontado com a realidade, ao invés de demonstrar empatia e solidariedade pelo sofrimento dos pares o próprio sofrimento se torna um elemento da competição.
    O filósofo Leandro Karnal ilustra bem essa situação em uma de suas falas quando solicita à sua plateia que faça o exercício de chegar em casa e falar para quem lá estiver “Estou cansado.”. É praticamente certo que a resposta ouvida será “Eu também.”. Este exemplo simplório simboliza de maneira muito potente o quão profundo é o enraizamento da ideologia capitalista em nossas vidas. Admitir que o outro pode estar sofrendo tanto quanto estamos sofrendo e ser solidário e acolher este sofrimento parece colocar em cheque todo o nosso funcionamento no mundo.
    Ao reconhecer que as mulheres, negros, indígenas, LGBTs e pobres também sofrem como sofremos (a intenção aqui não é igualar sofrimento e sim realçar que não é só o indivíduo que sofre, todos sofrem, cada um em suas condições e com consequências diversas) e que as condições de sofrimento para estes grupos implicaram em uma perda brutal de direitos e de qualidade de vida irremediavelmente nos levaria a questionar o status de ameaça destes grupos. Ao perceber que não existe ameaça clara à minha "propriedade privada", à minha “liberdade” e aos direitos que já tenho pode-se abrir uma brecha para que se comecem a questionar estes conceitos. Sou mesmo livre? Estes direitos que tenho, os outros têm também? Faz mesmo sentido acreditar que reduzir e isolar a convivência comunitária ao núcleo familiar dentro da minha propriedade é a melhor maneira de sobreviver?
    Uma vez iniciados estes questionamentos, a persuasão venenosa do capitalismo é imediatamente ameaçada. São em momentos assim, por exemplo, em que a produção de uma crise econômica é fundamental para a manutenção do status quo. Exacerba-se a níveis muito elevados a sensação de ameaça de tal forma que estas e outras regras tenham mais chances de continuar se perpetuando.
    Questionar o capitalismo não é simplesmente defender um outro sistema econômico. Não se trata apenas disto. O capitalismo, para além de um sistema econômico, é um produtor de práticas culturais rígidas e aversivas, ou seja, de regras absolutas sobre o funcionamento do mundo que apostam na coerção para manutenção de um controle persuasivo que visa a alienação dos indivíduos ao individualismo, competitividade e egoísmo. É na promessa constante de afastamento de ameaças que o capitalismo se sustenta e permanece oprimindo, matando e destruindo rapidamente toda e qualquer chance de sobrevivência de nossa espécie. É a aposta na impossibilidade da clássica frase de Bertolt Brecht de que “Nada deve parecer impossível de mudar”. Cabe apenas a nós tornarmos essa frase possível.
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Abaixo, o excelente vídeo do Leandro Karnal sobre o individualismo em nosso mundo líquido. Recomendo!


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Sobre ciência, evidências e achismos


Quem me conhece sabe que sou um árduo defensor da Ciência. Sem dúvidas, assumir este "rótulo" (pessoalmente não tenho problemas com rótulos que eu mesmo escolho - sou comunista, behaviorista, ateu etc.) já suscita todo o tipo de julgamento de várias pessoas, em especial das defensoras de métodos ditos alternativos e de pessoas mais ligadas a algum tipo de noção de espiritualidade.
Há uma série de equívocos nos comentários que me são dirigidos quando critico alguma coisa pela falta de qualquer rigor científico ou evidência verificável. O primeiro, e mais comum, é a crítica que sai pela culatra: a de que a ciência não é uma fonte de verdades e que os métodos científicos falham. Ufa, ainda bem que ciência não é religião. 
Os principais motivos pelos quais eu admiro a ciência é a preocupação da mesma em investigar, questionar, desconstruir, submeter a críticas da comunidade científica, a reparar erros quando são encontrados e, acima de tudo, a não defender verdades absolutas. Não se trata apenas de ir para o laboratório e manipular variáveis (que é um método científico muito válido, mas não é o único). Trata-se de investigar a realidade e submeter conclusões sobre o que foi observado para que os outros a questionem – afinal, não há observador neutro. A dúvida, e não a certeza, é o motor da ciência.
Qualquer coisa que fuja disso não é ciência - é manipulação da informação, que é justamente o que acontece quando achados científicos são veiculados pela mídia, em geral. Não raramente, o que se encontra em um artigo científico publicado é muito diferente do que acaba sendo veiculado pela mídia e essa veiculação distorcida de informações favorece em muito essa noção de que a ciência trabalha com verdades cristalizadas. Uma das principais estratégias utilizadas para distorcer achados científicos é mascarar correlação, transformando-a em causalidade. Um fato estar relacionado a outro não torna aquele causa deste.
Outro equívoco bastante frequente diz respeito à lógica dicotômica daqueles que não querem "largar o osso". Criticar algo pela falta de evidências científicas automaticamente me torna defensor daquilo que a pessoa critica. Um exemplo muito recorrente nas minhas conversas diz respeito à homeopatia. Sempre tive fortes críticas em relação a esse método pela ausência de qualquer estudo conclusivo que verificasse a eficácia desse tipo de terapia. As reações a essas colocações eram praticamente unânimes, independentemente de quem fosse a pessoa: "ah, mas os remédios tradicionais também não têm evidências".
Obviamente, isso é uma grande baboseira. Não são poucas as críticas que eu tenho à indústria farmacêutica, em especial por ela representar um dos principais braços de opressão do capitalismo. Ainda assim, nenhum remédio é aprovado por ter evidências de 100% de sucesso. Com todos os problemas e questões que devem ser levantadas sobre manipulação de dados e estudos duvidosos na indústria farmacêutica, ainda há evidências mais sólidas a favor das terapias tradicionais do que das terapias ditas alternativas.
Dificilmente um médico irá dizer (eu não conheço sequer um) que um remédio vai funcionar com certeza. Já no que diz respeito a homeopatia e outras terapias do tipo, com frequência o que se escuta é que é "mais natural", "fulano usou e sarou muito rápido", "vários pacientes utilizam e relatam melhora", “é garantido” etc.
É tão evidente a confusão entre correlação e causalidade nessas situações que me surpreende que a homeopatia tenha avançado tanto como avançou. O corpo já tem um ciclo natural de enfrentamento de ameaças. Esse ciclo é afetado diretamente por condições ambientais, biológicas e também pelas condições chamadas de psicológicas (não simpatizo com essa divisão "biopsicossocial", mas a uso para ficar mais didático). 
Não levar essas e outras variáveis em consideração ao verificar a melhora de um paciente sob uso de homeopatia (assim como de remédios tradicionais) já demonstra a falta de rigor científico e de descompromisso com a população. Estabelecendo-se uma relação causal o lucro está garantido e é isso que interessa.
Finalizando a questão da homeopatia, um exemplo de boa ciência se encontra no seguinte estudo: http://www.universoracionalista.org/homeopatia-nao-funciona-diz-estudo/ (Ah, é um bom estudo porque prova o que eu digo? Não. É porque se preocupa em fazer uma investigação exaustiva, ancorando-se em um método impecável, além de exposição à comunidade científica para averiguação e críticas bem embasadas que possam provar errado o que foi encontrado - que até o momento não apareceram).
Evidências são fundamentais em qualquer esfera de nossas vidas. Quando alguém nos fala que mulheres estão se fazendo de vítimas, que negro e pobre são bandidos, que LGBTs são promíscuos, que tais atos são coisas de pessoas sem deus no coração e tantas outras barbaridades que ouvimos por aí, é na ciência que vamos encontrar argumentos sólidos para dizer: "Prezadx, não interessa o que você acha. Isso não é uma questão de opinião. As evidências são inquestionáveis no que diz respeito à realidade das mulheres, dos negros, pobres, lgbts, pessoas de outras religiões que não a dominante em seus países. Se você defende qualquer uma dessas coisas o que lhe falta é uma verificação de realidade. Negar a realidade, as evidências, não lhe dá o direito de oprimir os outros, não dá a suas afirmações o status de "opinião", apenas demonstra o quanto sua resistência a evidências concretas é alta".
Há uma tendência muito marcada na sociedade em blindar coisas que coincidem com suas crenças religiosas ou pessoais ao método científico. Esse pensamento se estende para além da medicina, da psicologia e de padrões de vida ditos saudáveis. É essa mesma blindagem a dados baseados em evidências que se esconde atrás do discurso do opressor. A obsessão em legitimar discursos que validem crenças pessoais, ignorando toda e qualquer evidência contrária é um dos principais - senão o principal desafio - encontrado para despertar a consciência de oprimido no oprimido.
Devemos aprender a exercitar nosso olhar e escuta para questionar e contextualizar tudo aquilo com o qual nos defrontamos. Se é uma afirmação sem evidências, temos que questionar a afirmação e buscar desconstruí-la, além de buscar entender porque ela se propaga. Se é baseada em evidências, devemos averiguar em qual contexto o dado foi levantado e qual o método utilizado para levantar os dados e divulgar cada vez mais estudos cujos métodos são válidos.
A revolução não pode, de forma alguma ser tecnocrática. No entanto, uma revolução que não tenha na ciência sua principal ferramenta é mero achismo e perpetuadora de opressão.

domingo, 10 de janeiro de 2016

O que é ateísmo



Definir o ateísmo é tarefa tão árdua quanto definir a religião. Muitas são as concepções erradas que se tem deste termo, em grande parte, alimentadas por grupos religiosos que apenas o enxergam como a opção dos imorais, e também alimentadas por aqueles que se intitulam ateus apenas para hostilizar aqueles que acreditam em qualquer forma de manifestação religiosa.
Contrastando com o vasto material que se pode encontrar a respeito da religiosidade, espiritualidade, experiência elementar – ou tantos outros termos que estejam no campo da fé – o que se encontra a respeito do ateísmo é bastante limitado. Disto pode-se inferir que, embora este problema tenha diminuído bastante nas últimas décadas, discutir religião – em especial sob o enfoque da negação da mesma – ainda encontra uma série de barreiras, seja naqueles que reprimem de maneira agressiva o ateísmo, seja naqueles que preferem adotar uma postura neutra e não discutir o tema.
O discurso religioso que a tudo e todos busca englobar, não deixa de fora o ateísmo, chegando a defender, como faz Rocha (2013), que este nada mais é que um ressentimento anticristão ou como afirma Lecompte (1996) “De fato, foi só em épocas e em regiões influenciadas pelo cristianismo que se encontrou o ateísmo ou um secularismo e materialismo chão evacuando todo sentido religioso. Conclui-se disso que se trata de um cristianismo mal recebido, mal compreendido e mal vivido que gera o ateísmo”.
Valério (2009) complementa essa distorção do que poderia ser o ateísmo ao colocar que “Quando o filósofo Paul Johannes Tillich disse que Deus é o símbolo fundamental da preocupação do homem (TILLICH, 2005) deixou declarada a impossibilidade do ateísmo verdadeiro. Ainda que o homem quisesse, seria impossível para ele a descrença em Deus, pois é como se trouxesse os genes da crença e da adoração em suas entranhas. De modo que o ateísmo não é uma realidade própria de dada cultura ou de nenhuma outra, pois no âmago do ser humano está a crença em Deus”.
Tais visões servem unicamente ao propósito de deslegitimar ou invalidar qualquer posição contrária à dominação religiosa excluindo a possibilidade de uma discussão franca e necessária sobre uma possível vida sem religião.
Frequentemente coloca-se o ateísmo apenas como uma negação de qualquer divindade ou religião (MINOIS, 1998). Esta definição não é suficiente, pois depende exclusivamente da religião para defini-lo. O ateísmo como corrente filosófica, de fato, tem seu berço nas religiões, pois é na direção de negá-las e negar a qualquer deus que se estabelece. Esta visão, no entanto, parece ignorar que já cedo somos ensinados a sermos curiosos e a questionar regras até que os que estão ao redor se cansem e comecem a reprimir esta curiosidade e questionamento, repetindo um padrão que se observa também na doutrinação religiosa e pela imposição de regras através de outras formas de controle.
Embora a divulgação do ateísmo tenha crescido muito a partir de autores como Richard Dawkins, Cristopher Hitchens, Sam Harris e Daniel Dennett – que desenvolveram importantes trabalhos no sentido de questionar a dominação religiosa em especial em instâncias políticas e educacionais – é com considerável radicalismo que os ateus vêm se apresentando.
Seja pare esses autores como para tantos outros ateus em diversas páginas do Facebook a premissa básica é de que toda e qualquer forma de manifestação religiosa é ruim ou perversa e, não raramente, busca-se combater a religião com a mesma hostilidade criticada em muitas dessas agências religiosas. É uma reação esperada, de certa forma, embora ineficaz, uma vez que frente ao controle aversivo a tendência é de que o contra-controle seja igualmente aversivo, visando anular a fonte inicial de controle.
Uma alternativa a essa postura consiste em deixar de lado visões dicotômicas e julgamentos morais do comportamento religioso e se lançar a uma análise funcional destes comportamentos, sem buscar legitimá-los ou invalidá-los, mas buscando entender sua função para os indivíduos para que aí sim seja possível propor alternativas.
O ateísmo, deve combater sim, dominações religiosas, mas não visando destruir a religião e sim, combater opressões. Deve ser, portanto, em minha visão, um movimento de enfrentamento àquilo que é imposto de maneira coercitiva ou persuasiva manipuladora e impassível de questionamentos, em outras palavras, às regras dogmáticas. Não muito diferente daquilo que se espera em um trabalho terapêutico, ou no pensamento filosófico, por exemplo. Ou seja, um trabalho de desconstrução e questionamento da realidade, o qual exige o reconhecimento das limitações humanas.
Neste ponto, certos defensores de noções religiosas teriam a dizer que o ateísmo e a experiência religiosa em pouco ou nada diferem. No entanto, por mais que se busque se distanciar das religiões institucionalizadas, as ideias de alma, transcendência, religiosidade, espiritualidade, busca por sentido e necessidades fundamentais tem suas origens em organizações religiosas e, com grande frequência, caminham na direção de legitimar a existência de algo que atribua um sentido a tudo e que seja além do ser humano, alienando o ser humano a algo supra-humano.
O ateísmo, por outro lado, deve partir do princípio de que não há a necessidade de uma busca por sentido absoluto; de uma transcendência para se ser humano. De fato, para o ateísmo, ser humano, deve residir em ser, e não na busca do ser. Isto não implica, no entanto, em abrir mão de morais e valores, ou de ser imediatista e individualista, como os críticos de plantão fazem questão de afirmar. Pelo contrário, ser para um ser humano exige ser social, ou seja, ser com o outro e a partir do outro.
Isto irá, indubitavelmente, demandar uma série de regras e dispositivos de organização e de controle para que tal convivência com o outro seja possível. Regras estas que devem ser construídas com o outro e a partir do outro, sem buscar entidades metafísicas externas que transcendam esta relação, tampouco que se engessem em algum sentido que vise sanar o medo do vazio existencial, este resultante da constatação de nossas limitações e de nossa finitude.
Mais ainda, o ateísmo tenta romper com o paradigma frustrador de que sempre há algo melhor e mais perfeito que deve ser buscado, admirado e invejado. É a tentativa de devolver ao ser humano a sua condição de ser humano, ao invés de ser transcendente ou ser divino.
Pode-se levantar a hipótese de que os comportamentos religiosos se estabeleceram como práticas culturais a partir de sua função última de aliviar o sofrimento humano perante a frustração e ansiedade decorrentes da privação de sentido imposta pelo real em tempos onde não havia recursos suficientes para se buscarem respostas seja sobre o mundo externo ou sobre o mundo debaixo da pele.
Tais práticas foram passadas adiante, de geração para geração, como estratégias supostamente eficazes de esquiva da frequente privação de sentido em nossas vidas. Milênios se passaram e talvez esteja na hora de se questionar a real função de tais comportamentos na sociedade contemporânea e abrir a discussão para alternativas mais eficazes e menos cristalizadas de enfrentamento do sofrimento humano.
Neste sentido, a preocupação última de uma visão ateísta de mundo é a de resgatar o papel do ser humano como únicos responsáveis por suas escolhas buscando devolver-lhe sua liberdade, dentro do que é possível, vivendo-se em sociedade.

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